oi, boas vindas. meu nome é bibiana e eu sou uma escritora e cartunista brasileira independente. atualmente eu estou trabalhando nessa série de 78 episódios em que falo sobre um tema específico utilizando uma carta de tarot como plano de fundo da reflexão.
no episódio de hoje, eu vou desenhar o arcano da imperatriz enquanto tagarelo sobre pensamento producente e o mito do pensar positivo…
pessoalmente, não tenho uma relação muito boa com frases do tipo “você só precisa pensar positivo”, ou “você precisa estar positivo o tempo todo pra atrair coisas boas” e qualquer filosofia desse mesmo gênero.
apesar disso, me considero uma pessoa muito positiva: eu acordo sempre agradecendo pela vida, bebo meu café com alegria, encaro meus afazeres com entusiasmo (ou adapto eles ao meu nível de disposição) e basicamente me sinto, a maior parte do tempo, muito bem mesmo.
não acredito que minha vida seja melhor do que a de ninguém, e não tem nada de extraordinário nela. inclusive, eu ainda enfrento vários desafios em diferentes áreas.
mas tem algo — e digo isso mesmo sabendo que corro o risco de parecer meio presunçosa — que eu sei que eu faço diferente da maioria das pessoas: eu não me forço a pensar positivo.
ao invés disso, eu penso de maneira producente.
já ouvi muitas pessoas dizerem que nossos pensamentos criam a nossa realidade e, por isso, devemos sempre pensar positivo. mas essa dinâmica não deixa você com medo de pensar coisas negativas? quer dizer, ninguém consegue ser positivo o tempo todo, é desumano esperar isso de nós mesmos, visto que lidamos com várias questões desgastantes no dia a dia e, além disso, até mesmo o nosso corpo vive inconsistências hormonais e energéticas.
então achar que você precisa pensar positivo pra criar uma realidade positiva é, na verdade, uma armadilha, porque você inevitavelmente vai pensar coisas negativas em algum momento e, quando algo ruim acontecer, vai ficar se culpando porque você não pensou positivo o suficiente.
mas sobre essa ideia de que os pensamentos criam a nossa realidade, acho que é importante entender que muitas coisas trabalham juntas para criar a realidade em si: a natureza, as estruturas sociais, religiosas, políticas e culturais, as pessoas e suas respectivas percepções etc.
não somos os criadores da realidade, mas quando aquele coach que promete mudar a sua vida numa imersão de 5 mil reais te fala que nós co-criamos a realidade, ele não tá, de todo, errado.
isso porque, muito embora vários dos fatores que compõem a realidade estejam fora do nosso controle (e volto a citar a estruturação social, a natureza e as outras pessoas), nós somos responsáveis por criar a nossa experiência individual dela.
e criar nossa experiência da realidade depende da maneira como pensamos, sentimos e nos comportamos diante de todos os fatores externos.
na minha opinião os pensamentos não são o único fator e nem o fator mais importante, mas são um dos fatores essenciais, com certeza, para direcionarmos a nossa experiência da realidade.
e a verdade é que pensar positivo nos faz bastante bem e, com certeza, é mais saudável e simplesmente melhor do que ter uma mentalidade negativa sobre tudo o tempo todo.
meu problema não é, necessariamente, com o “pensar positivo”, mas com a forma como o pensamento positivo forçadoafeta as nossas emoções.
não acredito que devamos ignorar a maneira como estamos nos sentindo a fim de preservar uma mentalidade positiva; ao contrário, advogo em favor de tratarmos nossas emoções e pensamentos de forma coerente, afinal ambos são partes integrantes do todo que experienciamos na realidade.
quando passamos por cima de uma emoção para manter a mente positiva, estamos agindo de modo contraproducente: para termos uma experiência satisfatória de vida, precisamos atender nossas necessidades emocionais, do contrário, tudo será frustrante.
também, nossas emoções (mesmo as desconfortáveis) estão sempre trabalhando em nosso favor — diferente dos nossos pensamentos, que muitas vezes resultam de uma percepção da realidade que está limitada aos nossos traumas e experiências de vida.
imagine que você estivesse sentindo tristeza, e essa tristeza gerasse um enorme desconforto no seu peito e te desmotivasse a seguir com o seu dia. nesse cenário, se você escolher simplesmente pensar positivamente, você pode, por exemplo, escolher pensar “eu estou bem, tudo está bem”. a reação emocional que o seu corpo iria gerar seria algo parecido com uma distração: você para de reproduzir pensamentos que sustentam a tristeza e passa a reproduzir pensamentos que sustentam o bem-estar.
logo, você estará, de fato, se sentindo melhor.
no entanto, aquela emoção (a tristeza) não foi propriamente processada, e isso significa que ela continua no seu sistema nervoso ou em algum outro lugar no seu inconsciente.
quando digo que nossas emoções estão sempre atuando em nosso favor, me refiro justamente a isso. essa tristeza hipotética que você sentia faz parte de uma série de experiências vividas que resultam num sentimento; esse sentimento precisa ser acolhido e sentido — é assim que aprendemos e crescemos. eu falei bastante disso no episódio 2 “a gente não precisa fingir que não tem sombras".
de acordo com o pesquisador Vitor da Fonseca,
Ao longo da infância é a emoção que abre o caminho à cognição, a lenta emergência da conscientização de si ou o sentimento de si (em termos psicomotores, é sinônimo de noção do corpo) na criança faz emergir a sua cognição, ou seja, as funções cognitivas superiores das aprendizagens humanas mais complexas, que se vão construindo e reconstruindo face à dinâmica das suas reações comportamentais emocionais e afetivas, evoluem a partir da integridade antecipatória das funções emocionais. - Vitor da Fonsecahttp://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862016000300014
quando pensamos positivo, nem sempre estamos processando as emoções de forma saudável.
é fundamental aceitar as coisas como elas são: tristes, difíceis, desconfortáveis, enfurecedoras… e não utilizar uma mentalidade como mecanismo para escapar da realidade, mas utilizar os pensamentos para lidar com ela de modo deliberado e satisfatório.
e é aí que entra o pensamento producente:
minha teoria é a de que um pensamento producente é estruturado nesse esquema circular:
diferente do pensar positivo, a estruturação de um pensamento producente nos permite utilizar a mentalidade como fator de produtividade emocional.
em outras palavras, não precisamos suprimir nossas emoções para pensar de modo producente; ao invés disso, podemos utilizar nosso pensamento para processar as emoções, produzindo um resultado coerente através das nossas ações.
o ciclo de um pensamento producente é
observar → reconhecer, aceitar e validar necessidades → atender necessidades através de ações (ou solicitar seu atendimento)
como você pode observar, minha teoria tem bases fortíssimas na comunicação não-violenta, e eu falo mais sobre esse tema no episódio 0 “mudar de caminho é sempre uma opção".
veja um exemplo:
confesso que eu não tenho muita familiaridade com a carta da imperatriz: diferente de mim, ela é uma mulher sensual e magnética, e é geralmente representada com uma postura relaxada, que é indicativa de uma sabedoria muito interessante.
o que o arcano 3 nos ensina é que as coisas acontecem com mais facilidade quando estamos tranquilos e, ao invés de gastarmos nossa energia tentando forçar uma situação, podemos trabalhar essa energia de modo que a gente se torne atrativo para que a situação venha até nós, digamos.
o ponto de encontro entre a imperatriz e essa minha teoria do pensamento producente é o autorrespeito. não é preciso fazer esforço para pensar positivamente quando você se aceita plenamente como um ser que está vivo; a aceitação é um portal para o discernimento.
e quando temos discernimento, podemos agir sobre a realidade com coerência entre o agora (mesmo que ele seja caótico) e aquilo que estamos construindo ou que desejamos conquistar.
a imperatriz fala sobre vibrar na mesma frequência dos seus sonhos, e eu, falo sobre criar coerência entre o que pensamos e sentimos para, então, buscar nossos sonhos através de ações deliberadas ou intencionais.
uma maneira de incorporar esse conhecimento, é reconhecer que você tem um ritmo que é só seu, e que tudo o que você realmente precisa fazer pra criar uma experiência da realidade que seja satisfatória pra você, é respeitar e se alinhar com esse ritmo.
parece complicado, mas é bem simples. você pode usar a meditação da imperatriz, que tá no meu youtube e podcast, pra aprender e exercitar essa habilidade sempre que precisar.
mas, no dia a dia, o jeito que encontrei para manter a coerência entre pensamento e emoção, pra conseguir sempre pensar de forma producente, foi o planejamento circular.
eu tenho alguns vídeos sobre ele no youtube e prometo que vou fazer um episódio contando absolutamente tudo sobre o planejamento circular. só pra te incentivar assistir meus conteúdos sobre esse método, quero explicar que o planejamento circular nos permite executar nossas rotinas e afazeres de maneira intuitiva, o que nos permite respeitar nossos processos emocionais, eventuais dificuldades para focar ou para terminar o que começamos e também nos ajuda a eliminar a culpa de não estarmos em crescimento constante (até porque isso é humanamente impossível).
eu criei esse método em 2023 e vários dos meus seguidores já usam ele. os feedbacks mais apaixonados que recebo são de pessoas com TDAH, que me contam que o planejamento circular realmente mudou a rotina delas.
e pra orientar essa prática, criei uma agenda de planejamento circular em PDF, que você pode usar no celular, tablet ou computador (e pode imprimir, se preferir). .
mas, tô curiosa, comenta aí como você enxerga o arcano da imperatriz! que reflexões ela provoca em você?
tcha-au!
Suas afirmações e o planejamento circular salvam MUITO! <3 E seus textos sempre na hora certa, parece hahaha Vejo a imperatriz também como uma mãe que gesta a criatividade, que rege nossos projetos.