ter muitas opções é a mesma coisa que não ter opção
desenhando a carta do carro e falando sobre escolhas
escolher. talvez essa seja uma das partes mais difíceis da vida. o que escolher? quando escolher? por que escolher? tô fazendo essa escolha por mim ou por outra pessoa? será que escolhi certo? e se eu tivesse feito outra escolha lá atrás? (musiquinha pausa)
clarice lispector disse:
“E o mundo a me exigir decisões para as quais não estou preparada. Decisões não só a respeito de provocar o nascimento de fatos mas também decisões sobre a melhor forma de ser.”
desde muito cedo algumas escolhas são exigidas de nós. escolher uma faculdade, fazer faculdade ou não, escolher uma carreira, um parceiro… mas acho que nada, nem escola e nem família, nos prepara pra escolher, no sentido de que, ao longo da infância e adolescência, a maioria de nós não tem muito contato com quem somos de verdade.
aprendemos a corrigir comportamentos, aprendemos a fazer provas, aprendemos a copiar os outros pra caber em bolhas sociais, aprendemos a assumir responsabilidade ou a responsabilizar os outros. não aprendemos muito sobre… nós.
algumas pessoas, e me incluo nesse grupo, tiveram a possibilidade de explorar diversos interesses. meus pais sempre fizeram de tudo pra que eu pudesse dançar, pintar, tocar piano, jogar basquete, fazer teatro e sei lá mais o que.
eu, por outro lado, sempre soube que eu queria escrever. mesmo assim, demorei 26 anos pra escolher essa carreira. e demorei porque o mundo me fez pensar que eu deveria optar por um caminho mais seguro antes de ir atrás do meu sonho.
à beira da formatura do curso de direito, me vi completamente ilhada diante de um mar de opções, como se cada semestre fosse um passo a mais numa prancha cujo limite me afogaria na sensação de que eu poderia ser qualquer coisa, desde que soubesse o que eu queria ser.
e, de tantas opções possíveis, eu me perdi. não sabia mais o que eu queria.
lendo essencialismo, a disciplinada busca por menos em 2016, descobri que eu não era a primeira náufraga das possibilidades infinitas – e nem seria a última. o “leque de opções” de que nos falam quando estamos na faculdade é, na verdade, uma crença muito popular, e todos nós (acho eu) somos vítimas dele em algum momento de nossas vidas.
aprendi com essa leitura que ter muitas opções é o mesmo que não ter opção alguma, afinal ter possibilidades infinitassignifica precisar selecionar uma alternativa única e persistir nela até atingir o “sucesso”, do mesmo jeito que não ter nenhuma possibilidade significa precisar criar uma alternativa e persistir nela para sobreviver.
não que seja melhor ter menos opções – até porque o fato de tê-las é estar desfrutando de uma extensão da nossa ideia de liberdade, enquanto não ter possibilidades é estar limitado a circunstâncias indesejadas.
portanto não romantizemos a coisa. mas sejamos práticos.
ás vezes, a gente precisa explorar um pouco o mar de possibilidades antes de nadar numa direção específica, e isso simplesmente é válido, necessário ou conveniente.
mas se você não for herdeiro, e se você não puder contar com o suporte familiar, é interessante priorizar uma fonte de renda ou reserva de segurança.
eu não precisei aprender isso antes de deixar a casa dos meus pais, mas enfim aprendi, e é com esta hipocrisia que incentivo: priorize sua independência financeira.
quando me formei no ensino médio em 2013, lembro que todo mundo acreditava que se graduar na faculdade era uma forma de assegurar emprego. talvez na época até fosse, mas quando me formei na faculdade, já não era mais.
e as mudanças no cenário econômico e profissional têm sido tão rápidas e tão complexas, que eu não vou fingir que sei exatamente qual o melhor caminho para você assegurar sua autonomia. acredito até que esse caminho é extremamente variável (e até volátil) a depender de onde viemos e para onde queremos ir.
decidi ilustrar a carta dos enamorados pra falar desse assunto porque o arcano 6, regido pelo signo de gêmeos, faz emergir questões como dualidade, equilíbrio e mutabilidade à superfície da consciência. Esses temas, quando explorados, são portas (oportunidades) que se abrem para acessarmos, cada vez mais, nossa verdadeira essência, recordando e integrando cada parte de nosso ser, cada experiência, cada sombra e cada luz, ao momento presente, para que assim possamos adquirir mais clareza sobre o futuro (quem queremos ser? o que queremos fazer? ...).
muitas vezes essa carta nos convida a tomar uma decisão. ela nos incentiva a acessar a nostalgia, os sonhos de infância, os traumas e também as alegrias - não para que precisemos agir em resposta a tudo isso, mas para que tenhamos consciência para, daqui para a frente, tomarmos decisões que nos afastem dos medos recordados, e nos aproximem das satisfações.
é importante se reconhecer pra não seguir a maré. ela pode te levar para lugares bons, boas oportunidades. mas também pode te levar para lugares péssimos. não tem como saber para onde você vai quando você está 100% dependente de uma força externa (seja ela um chefe, um comportamento coletivo, uma movimentação econômica ou condições naturais do planeta terra).
é verdade que, de uma forma ou de outra, sempre estaremos à mercê de forças externas, mas também é verdade que quanto menos dependermos delas, mais livres (e provavelmente satisfeitos) seremos.
ao impor resistência à maré, criamos a possibilidade de ir de encontro a outros tipos de correnteza.
quando você está perdido dentre muitas opções, você precisa aprender a identificar aquilo que é prioridade.
cada um de nós vai levar fatores diferentes na hora de estabelecer uma prioridade: para você, a criatividade talvez seja indispensável, mas para o fulano ali do lado, talvez o mais importante seja o conforto.
quando você tem noção do que é mais importante pra você, fica mais fácil concentrar a sua energia nisso.
a partir do momento em que você prioriza uma opção, todo o resto é sobre a consistência – vale lembrar que consistência e intensidade são coisas bem diferentes.
e sabe aquele mito que diz que precisamos escolher uma coisa e fazer ela pelo resto de nossas vidas? não se permita ficar tão no raso assim.
se você mergulhar um pouco, vai perceber que seus objetivos e prioridades mudam conforme você cresce, e mesmo aquelas metas que exigem dedicação por longos períodos de tempo podem permitir períodos de descanso e adaptações à rota de ação.
você pode ter uma casa sendo pedreiro ou engenheiro, e pode ter seu corpo dos sonhos caminhando ou correndo. dá pra entender?
bom, por hoje é isso. espero que esse episódio seja útil pra você.
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tcha-au!