tem uma história que sempre me faz pensar sobre como muitas vezes os nossos sonhos não são o extremo oposto das nossas dores, mas uma mera cortina de fumaça entre os esses dois polos.
a história é de um menino escravizado nos estados unidos no século passado, que via todos os dias as filhas do senhor da casa comerem biscoitos de gengibre enquanto ele, ainda criança, era obrigado a ficar na sala de jantar, assistindo as meninas se deliciarem com seus biscoitos enquanto seu corpo mal nutrido lutava pra permanecer em pé.
o menino dizia pra si mesmo “no dia em que eu comer um biscoito de gengibre, aí ei vou saber que sou livre".
uma das dimensões dessa história faz perceber que pra nós, assim como pro menino, as coisas que desejamos, nossos maiores sonhos, muito recorrentemente são apenas um símbolo, uma coisa, um momento efêmero, que na nossa cabeça condicionada pelo capitalismo, provaria nosso valor.
a verdade é que muitas vezes o que desejamos não é o biscoito de gengibre, o tênis de marca, a aprovação no mestrado. queremos, acolhimento, aprovação, consideração, reconhecimento, afeto.
se o menino ganhasse um biscoito de seu senhor um dia, ele seria de fato livre? se você tiver aquilo pelo que tanto luta, como, por exemplo, o seu corpo dos sonhos, você será, então, digno de afeto?
o eremita é uma carta que provoca as mesmas reflexões: ele ensina que o isolamento pode ser um recurso necessário pra enxergarmos a verdade e que, justamente, a verdade, só pode ser encontrada dentro de nós. ela não é simbólica, é um estado de consciência.
oi, meu nome é bibiana, eu sou uma escritora e cartunista brasileira independente e estou ilustrando o meu próprio baralho de tarot.
no episódio de hoje, vou ilustrar a carta do eremita e, com a participação do astrólogo Zeno, que vou deixar marcado na descrição, explorar um pouco sobre quíron no mapa astral, e entender como nossos traumas refletem nossos sonhos.
você pode acompanhar essa série de episódios no meu podcast, no youtube, spotify, apple e amazon, e pode também assinar a minha newsletter no substack pra receber um episódio novo direto no seu e-mail, toda semana.
todos nós corremos atrás dos nossos biscoitos de gengibre. o meu biscoito era pesar menos 45kg. eu achava que tudo na minha vida iria se resolver quando eu fosse muito magra. nem preciso dizer, mas vou, que essa ilusão me levou a inúmeros problemas de saúde física e mental, e que precisei de ajuda profissional pra curar um transtorno alimentar que fez parte da minha vida por 11 anos.
talvez o seu biscoito de gengibre seja fazer comentários nos vídeos do instagram ou tiktok pra buscar a validação intelectual que você não recebeu na escola, ou talvez seja ter um carro caríssimo pra ser notado pelas pessoas que te deram um fora na adolescência.
o biscoito de gengibre de muitas pessoas é consumir: pra estar bonito, é preciso gastar 500 reais por mês em manutenções estéticas; pra ser elegante é preciso exibir a logo de uma marca que provavelmente explora comunidades marginalizadas pra lucrar; pra ser intelectual é preciso… esquece, parece que ser intelectual só gera estresse nos comentários, e a gente quer o hype.
mas aí, eu pergunto: pra que estar bonito? pra receber afeto? amigos, se vocês acreditam que só merecem afeto quando a pele ta assim, a unha ta assado e o abdomen tá trincado, desculpa jogar o balde de água fria em vocês mas… vocês não tão recebendo afeto. vocês tão recebendo validação, só. e ok, é justo querer validação, mas literalmente, a que custo?
e outra pergunta que tenho pra fazer é: a validação de quem que você quer? das pessoas atualmente não têm nem vergonha de assumir que tiram dinheiro de pobre? entendi.
tem biscoitos de gengibre mais dissimulados, como o álcool, por exemplo. e tem aqueles que as pessoas só comem porque todo mundo come, tipo “ah não, eu não consigo ficar sem comer carne em nenhuma refeição”, ou “você só é completo depois de casar e ter um filho”.
cada um desses biscoitos geram a sensação (muito momentânea, aliás) de que somos aceitos, aprovados, considerados, reconhecidos e amados.
mas o que a gente realmente quer, nem sempre é o produto, o copo de cerveja, o casamento. e tudo bem se for, pra você. tudo bem se a tua vida tem significado quando você pode comprar, beber, a se casar com quem você ama, a ter um filho.
o fato de buscarmos essa conquista simbólica não é um erro, não mesmo. mas na minha opinião, em muitos casos é uma distração.
no nosso mapa astral tem um ponto que fala sobre a missão do eremita, que é buscar a verdade dentro, e não fora: o quíron. e convidei o Zeno pra falar um pouco sobre o quíron em cada um dos signos. (escute o episódio!)
será que você não tá buscando um biscoito de gengibre ao invés de lutar pela sua liberdade? meu objetivo com esse episódio é que ele sirva como um incentivo pra você analisar objetivos atuais e observar como eles podem afetar o seu futuro.
as respostas que você busca provavelmente já existem em você – no seu passado, nos seus traumas, medos e desejos. o eremita ensina que as respostas mais profundas só emergem no silêncio. o silêncio da meditação, sim, mas também do silêncio que acontece quando deixamos de ouvir os outros e passamos a viver a nossa verdade.
se você quiser expandir o seu entendimento sobre as cartas que crio, você pode participar das minhas lives semanais: toda segunda às 10h tem live com leituras de tarot pra semana e uma discussão mais aprofundada sobre cada um dos arcanos. você também pode se tornar membro aqui do canal pra acessar a gravação dessas lives a qualquer momento.
e pode também comprar o meu curso de tarot onde te ensino a ler os 78 arcanos através da abordagem não-violenta.
é só acessar o meu site, bibilandia.co
o biscoito de gengibre sempre se tornará o novo normal.
Ficou massa o eremita!
Nossa, juro, esse foi 🤯🤯🤯🤯🤯🤯🤯
AMEI!