Em 2021, publiquei "The Magic Shop ", que conta a história de Amy, uma jovem adulta que se sente presa às expectativas que outras pessoas têm sobre ela, mas ao parar de correr no ritmo estabelecido pela sociedade, ela encontra refúgio em um lugar mágico.
O livro também conta a história de um dos meus álbuns favoritos, 'Love Yourself: Tear', do BTS, e utiliza algumas de suas músicas para ilustrar a jornada de Amy em seus próprios medos, tristezas e sonhos.
The Magic Shop foi escrito e editado (não intencionalmente) em somente 30 dias. Depois disso, eu o publiquei no Amazon KDP em menos de uma semana. Para referência, ele tem cerca de 100 páginas (a depender do formato digital ou físico). E para contextualizar, na época, eu trabalhava como tradutora jurídica e editora freelancer. A propósito, o objetivo desse texto não é mostrar “o quanto eu sou incrível por ter publicado um livro em 30 dias”, mas divulgar meu método de planejamento, para que você possa, também, usufruir dele!
Foi assim que eu fiz
Escrever uma história inteira pode levar anos, e digo isso por estar trabalhando em um romance desde 2019 (sem previsão alguma para termina-lo). Além disso, ao trabalhar em um projeto solo, precisamos lidar com problemas de cronograma, processos de inspiração, encontrar as ferramentas certas e, claro, manter o foco e a disciplina.
Muitos autores dão conselhos meio inatingíveis como "comprometa-se com um cronograma de escrita", "escreva 2 horas por dia", "escreva logo pela manhã". Mas a questão é: nem todas as pessoas podem ter esse tipo de compromisso porque a vida acontece de maneiras que elas não podem controlar.
Como mulher, por exemplo, sei que tenho um ciclo hormonal que se estende por cerca de 28 dias, e há dias em que me sinto tão exausta e desmotivada (ou sinto tanta dor) que o compromisso com um cronograma se torna insustentável.
Além disso, como escritora, preciso lembrar que nem todo dia será um dia produtivo para que meus processos criativos fluam. E, para mim, escrever deve ser uma experiência agradável ou, no mínimo, um momento para nos conectarmos com nossa alma e deixar que ela fale por nós. Não é um trabalho, nem um contrato, mas um compromisso positivo com nós mesmos e com nossos sonhos.
Portanto, este é o processo que criei para escrever um livro em 30 dias.
Etapa 1: criando espaço para escrever
É importante começar reconhecendo seu contexto e, é claro, tendo uma ideia geral sobre o livro que deseja escrever, pois nem todo livro se encaixará nesse cronograma, obviamente.
Independentemente disso, você pode usar esse método para escrever um conteúdo mais extenso; basta estar ciente de que livros diferentes exigem tempo, recursos e energia diferentes para serem escritos.
Comecei anotando minha agenda e sendo realista quanto ao tempo que poderia dedicar apenas à escrita. Eu só precisava trabalhar cerca de 20 horas por semana, o que me permitiu ter um cronograma de escrita bastante amplo.
Mas, como eu disse, eu estava muito consciente e respeitava minha energia e meu tempo, então decidi que trabalharia em meu livro por, pelo menos, 10 horas semanais. Se, hipoteticamente, eu precisasse trabalhar 8 horas por dia, provavelmente estabeleceria metas menores, como escrever 5 horas por semana ou talvez até menos do que isso.
Depois de estabelecer minha meta, comecei literal e figurativamente a criar espaço para minha escrita: decidi onde trabalharia e limpei todo o espaço. É importante para mim ter salas diferentes (ou mesas, ou o que for possível em meu ambiente) para diferentes propósitos.
No meu caso, decidi usar a mesa da cozinha para trabalhar em meus trabalhos de tradução e a escrivaninha do meu quarto para trabalhar exclusivamente em meu livro. Ao fazer isso eu estava, mais do que organizando o ambiente, estabelecendo intenções claras sobre o que eu faria sempre que me aproximasse da escrivaninha.
Além disso, tive de criar uma janela de tempo em que pudesse encaixar minha escrita. Decidi usar minhas tardes exclusivamente para trabalhar em meu livro, embora eu não escrevesse todas as tardes e, para ser sincera, passasse várias noites escrevendo (falarei mais sobre isso em um minuto).
A questão é a seguinte: limpei minha agenda durante a tarde para poder levar esse projeto a sério e não me permitir fazer "coisas mais importantes", como trabalhar como freelancer, durante esse período.
É muito importante que você reconheça seu próprio contexto e esteja atento à hora e ao local que pode definir para escrever. Não se esforce demais e faça o que for possível no momento.
Se você decidir que escrever uma única manhã por semana é o que é possível para você, então essa manhã será suficiente, porque o que realmente importa é a qualidade das suas horas de trabalho.
Etapa 2: horas de escrita
É aqui que meu método se torna mais intuitivo do que prático.
Acredito muito na arte em sua forma mais mística. Para mim, qualquer tipo de expressão artística é também uma expressão que vem da alma. Portanto, é natural que produzir arte, ou escrever, não seja apenas uma questão de resultados - essa peça será bem-sucedida? Quantas pessoas lerão o que escrevi? Quanto dinheiro vou ganhar? - mas sim sobre o processo - como essa obra me ajudará a curar? Que tipo de impacto minha escrita causará? Quanto estou crescendo como pessoa e como escritora com esse trabalho?
Percebo que, para muitas pessoas, escrever é uma fonte de renda e é visto mais como um trabalho do que como um tipo de arte. E isso é bom. Eu jamais discordaria das pessoas que vivem com esse entendimento. Ele é tão válido quanto o meu. Para mim, escrever é um processo intuitivo e até mesmo espiritual e, por isso, não pode estar vinculado a um plano ou cronograma inflexível.
É por isso aqui que consegui escrever um livro com um fluxo incrível: eu só escrevia quando me sentia inspirada.
Eu tinha 30 dias para escrever um livro, mas provavelmente só usei 15 deles para escrever (ativamente). Os outros 15 foram usados para ter ideias, editar, descansar e consumir a arte que me ajudaria a encontrar inspiração para escrever.
Assim, sempre que me sentia inspirada, eu me sentava e escrevia durante essas 10 horas semanais e até mais, porque estava em um estado de fluxo. Passei pelo menos 5 noites em claro escrevendo sem conseguir parar.
Mas aqui está um detalhe importante: Nunca falhei em meu compromisso de trabalhar em meu livro por 10 horas por semana. Sempre que me sentia sem inspiração, usava algumas dessas horas de outras maneiras, mas ainda assim produtivas.
Etapa 3: encarando bloqueios (a.k.a.* horas de edição)
*a.k.a. é uma sigla para “also known as”, em português, “também conhecido como”.
Não há nenhum valor revolucionário nessa etapa; já vi outros cescritores compartilhando dicas semelhantes. Mas vamos lá: quando não se sentir inspirado para escrever, concentre-se em outros aspectos do seu trabalho.
Pessoalmente, descobri que a edição é a maneira mais produtiva de dar continuidade à criação de um livro. Isso porque, ao editar, além de ainda sermos produtivos, também estamos abrindo espaço para ter novas ideias que complementem nossa história, ou para torná-la melhor e mais detalhada.
Ao revisar o que já escrevemos, provavelmente perceberemos que há vários detalhes, parágrafos e até capítulos que gostaríamos de acrescentar ou alterar.
Além disso, o processo de edição traz em si um fator motivacional: é uma forma de medir nosso progresso e também uma ferramenta que podemos usar para validar nossos esforços e realizações.
Meu método tem um nome (agora)
Olhando para trás, sei que escrever este exato livro foi minha primeira tentativa de usar o planejamento circular - um método de planejamento que eu criaria oficialmente dois anos depois. Se curiosidade sobre ele, por favor dê uma olhada na minha publicação do Substack.
Você pode ler meu livro aqui
Publiquei The Magic Shop, tanto em português quanto em inglês. Caso tenha interesse ou curiosidade, você pode encontrar meu livro neste link.