A vida não é linear, e o seu planejamento também não deveria ser
Introdução ao planejamento circular
Uma saudação a quem, assim como eu, sentiu culpa por pensar que éramos nós quem nos movíamos numa espiral de caos — sem saber o que fazer, pra onde ir, como continuar o que começamos, como voltar a sermos “nós mesmos” — e só agora sabe que é impossível se mover em linha reta, porque quem se comporta em espiral, na verdade, é a vida.
Penso que não por acaso muitas filosofias usam um círculo para representar o movimento da vida: os círculos são arquétipos representativos de ciclos; quando um termina, outro começa (e assim, podemos criar uma espiral, afinal um ciclo está inevitavelmente conectado com o próximo).
A própria astrologia trabalha com essa ideia, mas não precisamos nos afastar muito dos conhecimentos socialmente aceitos no ocidente para lembrar de outras culturas que também utilizam o círculo como símbolo da vida ou, para ser ainda mais pontual, como símbolo da passagem do tempo.
Viver é usufruir do tempo, eu diria.
A cultura grega muito se referiu à figura do oroboros, um dragão ou serpente que come sua própria cauda, cujo significado é o dos ciclos infinitos. Dá até para associar essa ideia à de reencarnação (uma vida termina, outra começa) ou simplesmente podemos espelhar essas simbologias no comportamento da natureza, quando, por exemplo, a morte de um animal representa o nascimento e a nutrição de organismos menores; ou quando o fim de uma estação representa o início de outra.
A maneira mais simples de entender a vida é através de uma estrutura circular.
E não só o círculo se relaciona à passagem temporal e natureza cíclica da existência, ele também simboliza a integração.
Eu gosto muito de respirar palavras fortes: integração. Quando inspiro pensando nessa palavra, percebo a grande dimensão que ela tem.
Muitas vezes ao fechar um ciclo (terminar um relacionamento, sair de um emprego, parar de fumar), limitados que somos, falhamos em notar de que maneira este ciclo está integrado com o próximo que acabamos de abrir. E como, mesmo através de certo desconforto emocional, os ciclos que não fazem mais sentido para nós hoje integram a totalidade daquilo que viemos a ser.
Sem aquela relação, não teríamos aprendido a identificar comportamentos tóxicos; sem aquele trabalho, não teríamos experiência para discernir que aquilo não nos satisfaz; sem os cigarros, não viríamos a descobrir nossa força de vontade ou disciplina.
Quando olhamos para a vida através de lentes lineares — e entenda por “lentes” o sistema de crenças que dividimos enquanto coletividade — é fácil sentir que estamos errando. Os valores sociais que vangloriam progresso, lucro e expansão são todos representados em linhas retas em ascensão.
E a ideia de que para estarmos adequados precisamos sempre estar nessa mesma configuração não precisa ser verbalizada, ela só… existe em nós.
Combater essa noção para, então, promover mais sustentabilidade em nossos movimentos dentro de uma vida que acontece em espiral e vivermos ciclos emocionalmente satisfatórios, fisicamente equilibrados e financeiramente prósperos, exige que aprendamos a fluir.
E para fluir, precisamos nos mover de forma natural.
Em outras palavras, precisamos estruturar nossos planos de maneira circular, e não linear.
Introdução ao planejamento circular
o problema do planejamento linear
Quando estamos seguindo um planejamento ou rotina, temos naturalmente a ideia de que o progresso relativo a esse plano ocorre de maneira linear.
Se, por exemplo, começamos a praticar um instrumento musical, dentro de duas semanas provavelmente seremos proficientes em alguns acordes e notas. Se, no entanto, essas duas semanas transcorrem e constatamos que nossa habilidade não teve a progressão esperada, nos desmotivamos (e a desmotivação, nesse caso, é uma frustração justa, afinal nossas expectativas não foram atendidas).
A falta de motivação recorrentemente causa uma inconsistência em nossas atitudes: quando não observamos os resultados que desejamos, nossa reação geralmente vai ser nos "revoltar" contra o planejamento.
Mas quando queremos progredir em algum setor, desenvolver uma habilidade ou mesmo experienciar mais segurança através de um planejamento ou rotina, é importante ressignificar o conceito de progressão, assim como os conceitos de consistência e de motivação.
O progresso não é, necessariamente, um movimento linear em ascensão. Consistência não é nunca parar e, por fim, motivação é importante - não essencial.
Uma progressão circular parte do princípio de que nossa rota de ação não precisa estar sempre em ascensão, porque a qualquer momento uma ação pode nos levar a concretizar um objetivo, e mesmo quando isso não acontece, essa etapa permanece integrada no processo sem ser um fator de desmotivação.
o planejamento circular
A ideia do planejamento circular surgiu para atender minhas próprias necessidades em um momento de vida em que senti dificuldade em ser consistente com minha rotina e responsabilidades. Ela surgiu do entendimento de que a vida acontece em ciclos, então planejar teria que estar alinhado com isso.
Logo, percebi que podia implementar esse conceito para ajudar meus clientes e seguidores* a traçar melhores rotas de ação em suas vidas também.
Ao desenvolver esse planejamento, minha intenção prioritária era criar um sistema que eliminasse completamente a culpa e a vergonha — sentimentos recorrentes quando "falhamos" em cumprir alguma meta. E isso se torna possível com a estrutura circular porque esse tipo de planejamento consegue fluir junto de nossas necessidades mais urgentes, e também das mais profundas.
Planejar num sistema circular consiste em estabelecer várias rotas possíveis para atingir uma única meta. Assim, não só estamos criando a possibilidade de executar funções diferentes a cada dia (e ainda assim manter a segurança de uma rotina) como, também, estamos abrindo nossa percepção para receber ou atingir a meta independentemente de como isso vai acontecer — e esse é um dos princípios básicos da cocriação (ou manifestação), para quem tem interesse no assunto.
Da mesma forma que as cores transmitem mensagens não verbais, as formas e as imagens também produzem esse efeito no cérebro humano. O círculo, como mencionei antes, funciona como um arquétipo para: unidade e integridade, alma, o eu, perfeição, glória e poder, santidade e bênção, acaso e presságio, amizade e intimidade, tempo e eternidade. Portanto, ao visualizar um planejamento numa estrutura circular, intuitivamente sentimos essas informações junto das tarefas.
benefícios do planejamento circular
dinâmica e flexibilidade
Planejar em círculo permite que você escolha, dentre mais de uma opção, que atividades desempenhar, de acordo com as suas necessidades mais íntimas. Em dias em que se busca mais tranquilidade, você vai se beneficiar mais de atividades que nutram essa intenção — e o contrário é válido para dias em que se busca mais movimento.
execução intuitiva
Esse tipo de planejamento nos reconecta com a intuição, porque precisamos nos fazer presentes pra reconhecer nossas necessidades todos os dias. E ao criar essa necessidade (a de estar presente pra escolher), criamos também uma conexão instantânea com o nosso mundo emocional, e passamos a fazer escolhas com mais consciência e de forma intuitiva.
progressão em espiral
Ao contrário da sensação de progresso, platô e regresso que pode ser criada quando utilizamos um planejamento linear, no planejamento circular o progresso acontece num movimento de espiral que inicia nas bordas do círculo e se direciona ao centro (onde fica o objetivo final). Não há como voltar para um ponto anterior, porque progredir é consequência da consistência e do movimento natural do planejamento.
abertura para receber
A ideia de colocar o objetivo no centro do círculo contribui como recurso visual para que seja possível sentir que, a qualquer momento, qualquer de nossas ações, pode nos levar diretamente até o centro (até a meta), sem que precisemos nos preocupar com a ideia de "fazer de tudo" pra conseguir o que queremos. Assim, também nos mantemos abertos para receber surpresas positivas a qualquer momento da jornada de autodesenvolvimento. Não existe uma linha de chegada, mas um processo que pode ser, sempre, bem aproveitado.
Ela também serve o mesmo princípio dos vision boards.
mantendo a consistência
Progredir em qualquer habilidade depende da consistência em sua prática como um dos fatores essenciais. A consistência, por sua vez, muitas vezes depende de motivação, e por inúmeras razões, a motivação não é um fator estável o suficiente para podermos contar com ela na hora de manter o foco no nosso planejamento.

Mas se pensarmos em "termos circulares", manter a consistência se torna mais fácil: a maior regra do planejamento circular é que, dentre todas as atividades implementadas no plano, existe obrigatoriedade em praticar, no mínimo uma delas (e, no máximo, quantas forem possíveis de maneira confortável).
Portanto, mesmo nos nossos "piores dias" podemos nos dedicar a uma coisa e, assim, estabelecemos segurança em nosso dia a dia. Manter a consistência utilizando um planejamento circular, portanto, exige que nos dediquemos somente ao que nos é genuinamente útil e, de alguma forma, prazeroso.
meta/manifestação
Independentemente de você compreender suas conquistas como manifestações ou como alcance de objetivos, o planejamento circular contribui com a ideia de que, a qualquer momento, a sua meta pode ser atingida de um ou outro modo, e saber disse contribui com o entendimento de que todas as nossas ações dentro do planejamento são igualmente importantes, mesmo as mais pequenas, porque qualquer uma delas pode nos levar até o objetivo final.
Até logo! <3
Bibiana Terra.
Nossa adorei! Estou trabalhando em um texto sobre essa relação com o ciclo feminino, vou te enviar quando sair. Gostei muito de como seu texto está estruturado como método. Parabéns!
Que ponto de vista interessante! E realmente faz sentido, adorei.