a vida é cíclica (e você também deveria ser)
uma saudação a quem, assim como eu, sentiu culpa por pensar que éramos nós quem nos movíamos numa espiral de caos — sem saber o que fazer, pra onde ir, como continuar o que começamos, como voltar a sermos “nós mesmos” — e só agora sabe que é impossível se mover em linha reta, porque quem se comporta em espiral, na verdade, é a vida.
penso que não por acaso muitas filosofias usam um círculo para representar o movimento da vida: os círculos são arquétipos representativos de ciclos; quando um termina, outro começa (e assim, podemos criar uma espiral, afinal um ciclo está inevitavelmente conectado com o próximo).
a própria astrologia trabalha com essa ideia, mas não precisamos nos afastar muito dos conhecimentos socialmente aceitos no ocidente para lembrar de outras culturas que também utilizam o círculo como símbolo da vida ou, para ser ainda mais pontual, como símbolo da passagem do tempo.
viver é usufruir do tempo, eu diria.
e um arcano do tarot que não só tem uma simbologia circular, como também faz referência aos altos e baixos da vida é a roda da fortuna.
oi, meu nome é bibiana, eu sou uma escritora e cartunista brasileira, e nesse episódio vou te apresentar uma teoria que criei em 2023 – o planejamento circular – enquanto ilustro a carta número 10 do tarot – a roda da fortuna.
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a cultura grega muito se referiu à figura do oroboros, um dragão ou serpente que come sua própria cauda, cujo significado é o dos ciclos infinitos. dá até para associar essa ideia ao conceito de reencarnação (uma vida termina, outra começa) ou simplesmente podemos espelhar essas simbologias no comportamento da natureza, quando, por exemplo, a morte de um animal representa o nascimento e a nutrição de organismos menores; ou quando o fim de uma estação representa o início de outra.
a maneira mais simples de entender a vida é através de uma estrutura circular.
e não só o círculo se relaciona à passagem temporal e natureza cíclica da existência, ele também simboliza a integração.
eu gosto muito de respirar palavras fortes: integração. quando inspiro pensando nessa palavra, percebo a grande dimensão que ela tem.
muitas vezes ao fechar um ciclo (terminar um relacionamento, sair de um emprego, parar de fumar), limitados que somos, falhamos em notar de que maneira este ciclo está integrado com o próximo que acabamos de abrir. e como, mesmo através de certo desconforto emocional, os ciclos que não fazem mais sentido para nós hoje, integram a totalidade daquilo que viemos a ser.
sem aquela relação, não teríamos aprendido a identificar comportamentos tóxicos; sem aquele trabalho, não teríamos experiência para discernir que aquilo não nos satisfaz; sem os cigarros, não viríamos a descobrir nossa força de vontade ou disciplina.
quando olhamos para a vida através de lentes lineares — e entenda por “lentes” o sistema de crenças que dividimos enquanto coletividade — é fácil sentir que estamos errando. os valores sociais que vangloriam progresso, lucro e expansão são todos representados em linhas retas em ascensão.
e a ideia de que para estarmos adequados precisamos sempre estar nessa mesma configuração não precisa ser verbalizada, ela só… existe em nós.
combater essa noção para, então, promover mais sustentabilidade em nossos movimentos dentro de uma vida que acontece em espiral e vivermos ciclos emocionalmente satisfatórios, fisicamente equilibrados e financeiramente prósperos, exige que aprendamos a fluir.
e para fluir, precisamos nos mover de forma natural.
em outras palavras, precisamos estruturar nossos planos de maneira circular, e não linear.
o problema do planejamento linear
quando estamos seguindo um planejamento ou rotina, temos naturalmente a ideia de que o progresso relativo a esse plano ocorre de maneira linear.
se, por exemplo, começamos a praticar um instrumento musical, dentro de duas semanas provavelmente seremos proficientes em alguns acordes e notas. Se, no entanto, essas duas semanas transcorrem e constatamos que nossa habilidade não teve a progressão esperada, nos desmotivamos (e a desmotivação, nesse caso, é uma frustração justa, afinal nossas expectativas não foram atendidas).
a falta de motivação recorrentemente causa uma inconsistência em nossas atitudes: quando não observamos os resultados que desejamos, nossa reação provavelmente será a desistência ou, no mínimo, o abandono do planejamento.
mas quando queremos progredir em algum setor, desenvolver uma habilidade ou mesmo experienciar mais segurança através de um planejamento ou rotina, é importante ressignificar o conceito de progressão, assim como os conceitos de consistência e de motivação.
o progresso não é, necessariamente, um movimento linear em ascensão,
consistência não é nunca parar e, por fim,
motivação é importante - não essencial.
uma progressão circular parte do princípio de que nossa rota de ação não precisa estar sempre em ascensão, porque a qualquer momento uma ação pode nos levar a concretizar um objetivo, e mesmo quando isso não acontece, essa etapa permanece integrada no processo sem ser um fator de desmotivação.
o planejamento circular
ao desenvolver esse planejamento, minha intenção prioritária era criar um sistema que eliminasse completamente a culpa e a vergonha — sentimentos recorrentes quando "falhamos" em cumprir alguma meta. e isso se torna possível com a estrutura circular porque esse tipo de planejamento consegue fluir junto de nossas necessidades mais urgentes, e também das mais profundas.
planejar num sistema circular consiste em estabelecer várias rotas possíveis para atingir uma única meta. assim, não só estamos criando a possibilidade de executar funções diferentes a cada dia (e ainda assim manter a segurança de uma rotina) como, também, estamos abrindo nossa percepção para receber ou atingir a meta independentemente de como isso vai acontecer — e esse é um dos princípios básicos da cocriação (ou manifestação), para quem tem interesse no assunto.
da mesma forma que as cores transmitem mensagens não verbais, as formas e as imagens também produzem esse efeito no cérebro humano. o círculo, como mencionei antes, funciona como um arquétipo para: unidade e integridade, alma, o eu, perfeição, glória e poder, santidade e bênção, acaso e presságio, amizade e intimidade, tempo e eternidade. portanto, ao visualizar um planejamento numa estrutura circular, intuitivamente sentimos essas informações junto das tarefas.
mas, voltando à roda da fortuna, para o tarot a ela representa a natureza do universo: sua simbologia demonstra que as coisas estão em fluxo constante e que nada permanece o mesmo para sempre. no meu baralho, decidi que a roda deveria ser girada pelos quatro signos nos cantos da carta, com o giro representando o movimento da vida e o fato de que somos impulsionados para o futuro por forças maiores do que nós mesmos.
e, claro, a roda em si, em alguns baralhos é um tear, em outros um instrumento de t*ortura, no meu tarot, é um planejamento circular. dessa maneira, quando a roda da fortuna sair em alguma leitura, além de expressar a sabedoria da ciclicidade, também nos lembra que somos autores do nosso destino, e que a maneira como administramos mesmo os eventos inesperados, tem uma importância fundamental na nossa experiência de vida.
não por acaso os signos fixos aparecem nos cantos desse arcano: a consistência também tem um papel essencial no avanço dos nossos planos. e a consistência muitas vezes depende de motivação. por inúmeras razões, no entanto, a motivação não é um fator estável o suficiente para podermos contar com ela na hora de manter o foco no nosso planejamento.
mas se pensarmos em "termos circulares", manter a consistência se torna mais fácil: a maior regra do planejamento circular é que, dentre todas as atividades implementadas no plano, existe obrigatoriedade em praticar, no mínimo uma delas (e, no máximo, quantas forem possíveis de maneira confortável).
portanto, mesmo nos nossos "piores dias" podemos nos dedicar a uma coisa e, assim, estabelecemos segurança em nosso cotidiano. manter a consistência utilizando um planejamento circular, portanto, exige que nos dediquemos somente ao que nos é genuinamente útil e, de alguma forma, prazeroso.
pra saber mais sobre o planejamento circular e começar a implementar ele na sua vida, assista o meu tutorial completo (o link pra ele está na descrição).
você também pode usar a minha agenda de planejamento circular: ela tem instruções pra você montar seu planejamento e te guia, todos os dias, rumo a uma vida com mais presença e satisfação.
e se você gosta de utilizar o notion, pode comprar minha template de planejamento circular – tem uma mentoria completa sobre esse método e vários outros benefícios!
ufa!
por hoje, é isso.
até o próximo episódio!
tcha-au!
Ah, Bibiana. Não é bobagem dizer que minha vida mudou depois de uma leitura de tarô contigo ano passado. Nem tudo se realizou mas sinto que tudo já se realizou, não dá pra explicar. Só estou respirando na outra realidade que leste pra mim. Aquilo foi tão forte e significativo que consumo desde então teus conteúdos e também não seria bobagem dizer que eu acho que me apropriei do planejamento circular pra tudo na vida e, por isso, cheguei justamente no futuro que tua voz narrou pra mim. É libertador e eu sou outra pessoa. Criei uma conta nessa rede ontem e tudo aqui me encanta. Quero escrever como sempre fiz e escondi. Essa parte está dentro da tua previsão. Meus planejamos circulam no que me torna melhor e isso me tira ansiedade e o peso da vida. Obrigada por tanto, vou seguir te acompanhando. Você é luz ❤️