a imprevisibilidade do eu autêntico
às vezes você precisa se afastar de tudo o que parece ser você
perceber que só preciso ser quem eu sou é uma das coisas mais poderosas — e dolorosas — que eu já aprendi. tantas vezes eu me deixei ficar propositalmente desconfortável com minhas próprias escolhas só para sentir que me encaixava em algum lugar, ou para me sentir aceita por outras pessoas.
aprender que eu sou o suficiente remodelou não só a maneira como me vejo, mas como enxergo e sinto o mundo.
ser eu significa negar qualquer coisa que não seja eu.
e isso pode parecer simples demais, óbvio demais ou muito pouco. mas quando se trata de efetivamente deixar lugares, pessoas e hábitos para trás… fácil, óbvio e pouco não são as palavras que vêm em mente.
é, na verdade, um processo bonito, devo dizer — o de se permitir caminhar em direção a si.
é ter que escolher, todos os dias, abandonar os padrões de pensamento confortáveis que, apesar de nocivos, estão ali há tanto tempo que se torna difícil simplesmente parar de se identificar com eles.
mas “difícil” nunca me impediu. eu estou aqui ainda. estou aqui. e escolho estar, dia após dia, porque só a ideia de me encontrar novamente (no espelho, nas palavras, numa dança…) é suficiente para que eu continue caminhando.
e eu mereço isso. mereço retomar, de todas as situações que me feriram, o poder de determinar meu próprio valor e meu próprio direcionamento na vida. eu não sou o que fazem de mim. sou o que eu escolho ser.
eu reivindico toda a abundância que mereço. eu reivindico toda a saúde que meu corpo pode experimentar. reivindico todo o amor que desejo e mereço receber. eu reivindico todo o respeito que mereço. eu reivindico todo o reconhecimento que mereço. eu reivindico a capacidade de desfrutar da liberdade que já tenho. eu reivindico. e eu receberei.
acontece que, quando quero coisas melhores para mim e mesmo que me sinta merecedora delas, também sinto culpa.
e faz sentido, já que para caminhar em direção a mim mesma, eu preciso deixar para trás lugares, coisas e, mais do que isso, pessoas.
mas parte do processo de (re)construir quem somos, é precisar de espaço para crescer. muito espaço. e, às vezes, espaço não é o suficiente. é preciso distância. não para evitar que os outros me machuquem (ou que eu o faça), mas para me afastar de suas crenças e entender quais são as minhas próprias, por que elas existem e a que fim servem.
também, para que eu possa me livrar das crenças que não servem aos meus melhores interesses — sendo minhas ou dos outros.
e este processo pode levar tempo. o mais provável é que leve.
e em algum momento, a distância mais parece uma bagagem, que pesa com a culpa de se estar longe da família, dos amigos, do ninho que eu quis tanto deixar.
só que, a menos que algumas coisas sejam colocadas para fora, a bagagem não fica mais leve. É preciso falar sobre a distância. é preciso deixar espaço, ali dentro, para caber a importância desse processo.
eu estou indo me encontrar. isso importa pra mim.
não é que eu não sinta falta deles, do ninho. não é que eu não queira estar com eles, lá. é que eu pretendo estar mais segura com quem eu sou antes que eu possa voltar para aquele lugar e tudo o que ele me faz lembrar.
assim, não posso ferir ninguém projetando meus traumas e medos, e ninguém pode me ferir esperando que eu seja meu antigo eu.
eu não sou mais essa pessoa.
eu mudei. orgulhosamente.
e ainda amo o velho eu, os velhos amigos, o velho todo mundo e tudo mais. porque eu aceito quem eu já fui. e aceito que todas as pessoas do meu passado me amaram do jeito que puderam. e eu os amei do jeito que pude. que essa não é a maneira que eu faço agora. é diferente.
eu aceito e honro a todos. eu só não estou pronta para voltar atrás. eu ainda estou crescendo e me apoiando neste novo lugar. ainda estou aprendendo quem eu sou e quem pretendo ser.
e não vou apressar este processo. vou respeitar meu tempo. não por egoísmo. não por medo ou vergonha. mas por respeito: a mim mesma e aos outros.
a culpa é um sentimento muito familiar para muitos de nós, e isso não torna mais fácil lidar com ela de forma alguma. é sempre uma carga pesada a ser carregada. e agora estou decidindo que ela não cabe mais na minha bagagem.
estou soltando a culpa. e espero que ninguém a encontre pelo caminho.
eu não vivo do jeito que vivo para ferir ninguém. eu vivo do jeito que quero porque amo este modo de vida. eu estou construindo e conquistando a vida em meus próprios termos.
quão bonito é isso?
este texto foi escrito em 2022, quando saí definitivamente da casa dos meus pais. ele me inspirou a escrever o livro “uma revolução por vez”, publicado em 2023.
espero que você encontre acolhimento por aqui.
por hoje, é isso.
um abraço com aroma de manhã cedinho no meio do mato.
Adorei, me sentir extremamente representada em suas palavras.
mds, esse texto me lembrou claramente da época do ensino médio e eu me metia em cada rolê possível pra me sentir mais “adolescente”, só pra eu chegar em casa sem qualquer energia social e n me sentindo eu mesma em nenhum momento. AMEI O TEXTO!